terça-feira, 7 de abril de 2009

O Eu, o Si Mesmo e os muitos deuses


Você alguma vez já se olhou no espelho e tomou consciência do desconhecido diante dos olhos? Ou se estranhou falando "Eu", pela primeira vez se dando conta de que havia ali uma entidade não tão óbvia, como anos de automatismo faziam crer?

Somos compostos de multiplos heterogêneos orbitando em torno de "algum" núcleo. Somos acostumados a chamar algo que supomos ser este núcleo de Eu, e nos identificamos total e irrefletidamente com ele. Alguns tem a oportunidade da experiência que coloca esse Eu em perspectiva, qundo finalmente questionamos o que é sujeito e o que é objeto desta fala. Quem é o que denomina? Quem é o que fala Eu? Sou Eu mesmo? Ou às vezes, ou quem sabe nunca...

Há uma ou mais instâncias do Si Mesmo que emanam a fala, mas são as mesmas que emanam o sentimento, a emoção, a intuição?

Poderia se perguntar qual a importância desta questão para a espiritualidade. Tomemos o crente que entende Deus como "uma energia", mas reza para o velhinho. Qual das atitudes expressa o Outro com quem dialoga? Porque a elaboração teológica mais sutil e complexa não retiram do velhinho a verdade daquela crença. O mais sofisticado arcabouço intelectual não forma a base real que norteará as ações e interpretações do devoto; suas expectativas na relação com o divino continuarão sendo a do menininho ajoelhado na beirada da cama.

A grande tarefa na dantesca jornada do conhecimento sempre será a de mapear o mais inóspito dos territórios: o interior da alma que busca. São tais olhos, ouvidos e pés que dão a tônica da caminhada, e as interpretam pela única perpectiva possível: a sua. Preciso conhecer o Eu que olha, que age e reage, que imagina e deseja, a assim pincela a gosto tão pessoal a paisagem.

Vemos assim que há uma intransponível tensão entre a criança e o intelecto, entre o Eu no meio de Eus, entre a lingua e o coração, entre a crença que aceito e a crença que se impõe quase à revelia. Não me resta senão sobrevoar as muitas perspectivas - quando e se me liberto da presença daquele Eu até então inquestionado, para entendê-lo como parte e não como o único núcleo possível.

A aragem que sopra pelas frestas de libertação tão inesperada quanto possível é que torna possível alçarmos vôo em direção a espiritualidades mais vastas e maduras.

3 comentários:

  1. Como a espiritualidade pode nos ajudar nessa travessia em direção a esses "eus"?

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  2. Qual é a difernça entre o Eu e o Si mesmo? Você poderia falar um pouco mais sobre o Eu e suas instâncias? Seria o mesmo que fragmentos do Eu? Eu preciso de mais exemplos para tentar entender.

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  3. Um Eu que é uma parte e não um unico nucleo possivel, uma gota limpida num oceano de alegria, Óh Graaande Eu, tu, ele ,nós ,vós ,eles....Desbravamos então a imensa floresta de nossa mente, de nossas emoções, de nosso corpo materializado até que possamos Ser esta gota, parte deste imenso oceano multicor......liiiiinnnnnnnddddoo

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